3.11.09

Cenas de um casamento*


Hanif Kureishi e seu terceiro romance Intimidade (foto: Jerry Bauer)

Fruto da união de um paquistânes com uma inglesa, Hanif Kureish estudou filosofia, durante a juventude, mas tornou-se célebre pelo mundo das letras como dramaturgo, durante os anos 1970, ganhando projeção mundial com o roteiro do filme Minha adorável lavanderia do renomado diretor Stephen Frears.

Intimidade é seu terceiro romance e como os outros dois que o antecedem, O Buda do subúrbio e Álbum Negro, revela, à cada página, uma deliciosa ficção, cuja receita incluí um narrador em primeira pessoa que sugere vários aspectos biográficos do autor.

Muitos escritores, ao adotar este mesmo recurso, caem no erro de utilizar o narrador para desfilar verborragias fundadas em suas próprias convicções. Kureishi o faz de forma muito sutil. Experiências pessoais como a ruptura de um casamento, sustentado por indulgência, descrito em Intimidade, ganham voz universal por retratar a sensação de deslocamento da geração da qual fez parte o autor.

A revolução comportamental fomentada pela juventude de 1968 chega ao final de milênio domesticada pela nova ordem neo-liberal e instituições sustentadas por valores antes questionados, como o casamento, voltaram a ser o porto-seguro de homens que enterraram sua inquietude. Sintomaticamente, a única redenção encontrada pelo protagonista Jay é Nina, uma jovem, perdida sob a sombra nostálgica de muitos dos ideais contemplados pela geração do autor.

*Originalmente publicada na revista Cenário, edição 20 (2000).

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